sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um dia de paz


Quero um dia de paz, que seja só um dia mais.  
Quero deitar numa rede, deixar o sol queimar meu corpo e a brisa suavemente tocar no meu rosto.  
Quero olhar para o mar e poder viajar. Ver os peixes, as ondas, as pessoas nadando e um barquinho velejando.
Meu pensamento vai longe, até onde você possa estar.
Olho para o céu e o azul me fascina, chego a te ver nas nuvens que se formam uma menina.
O cantar dos pássaros me lembra uma música que me faz lembrar você, nessa hora acabo me entristecendo justamente por não te ter. 
Em cada balançar da rede, é um momento que me vem em mente que não volta mais.
Caminho pela areia, sentindo meus pés afundando, a água me limpando e o vento sem rumo me guiando.  
Cada passo me vem uma lembrança, da minha infância, da adolescência e agora da sua ausência.
Tinha medo desse dia, de olhar pra tudo e não ver nada. De não ter você nessa minha caminhada.
Quero que a simplicidade me traga de volta o que eu tinha e não sabia. 
Fernanda Braga

Só uma noite


Já era tarde e o sono não vinha, minha cabeça estava a mil por hora. Estava me sentindo sozinha naquele lugar, tão meu e tão vazio.
Largada no sofá eu ouvia minha música predileta tocar no rádio enquanto tomava um vinho e fumava um cigarro pra tentar relaxar.
Infelizmente, nada disso estava adiantando, resolvi então procurar algo que me distraísse fora daquele lugar.
Tomei um banho demorado, me perfumei, escolhi a roupa mais provocante, e saí. Achei que dançar um pouco e beber alguma coisa me distrairia naquela noite aparentemente, sem fim.
Era só isso que eu precisava naquela noite. Um pouco de distração e nada mais.
Procurei um lugar desconhecido onde talvez eu me sentisse mais a vontade.
Ao entrar olhei ao meu redor, vi todas aquelas luzes radiantes, a música extravagante, o calor humano tomando conta daquele lugar. Fui fisgada pelo cheiro de paquera que estava no ar e principalmente porque ali, provavelmente não haveria ninguém conhecido que pudesse de alguma forma estragar com a minha noite.
Enquanto bebia uma ice estupidamente gelada, aproveitei pra dançar. Estava tão concentrada em mim mesma e no prazer que estava sentindo ali na pista, que não percebi quando alguém se aproximou, só pude sentir algo gostoso e com os olhos ainda fechados continuei dançando.
A música estava me relaxando e meu corpo naturalmente se soltando quando de repente senti um calor bem perto de mim, uma mão me tocando, tive receio de me virar e acabar com aquilo que estava tão confortante.  Era um toque macio acompanhado por um cheiro levemente doce que me guiava na dança, parecia que estávamos a sós na pista.
Envolvida com aquele momento, não reparei no detalhe da mão que me conduzia, senti que era delicada com unhas curtas, bem cortadas. Fiquei curiosa, mas em silencio desejei que não parasse.  
A surpresa foi grande quando finalmente me virei e deparei com uma linda mulher me olhando diretamente nos olhos e sorrindo pra mim. Fiquei parada por alguns segundos tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Senti um misto de prazer, nervoso e surpresa. Não tive força e nem vontade de parar com aquilo, na verdade eu queria mais.
Continuamos dançando tão coladas, era como se não tivesse mais ninguém ali, além de nós duas. Sentia sua mão respeitosamente contornando todo o meu corpo, conhecendo cada centímetro dele e em cada toque, mais eu me doava.
É. Estava difícil de admitir que eu estivesse envolvida por aquele perfume e hipnotizada por aquele olhar que me penetrava a poucos minutos de um jeito que já não conseguia explicar.
Perdi o controle e a noção do que fazia. Aquela mulher fascinante sem muitos esforços, com certeza, já me tinha.
Os toques se aprofundaram enquanto dançávamos e seus lábios a cada passo mais dos meus se aproximavam. Em alguns momentos sentia perfeitamente sua respiração quente passar pela minha nuca, enquanto suas mãos firmes seguravam suavemente meus cabelos.
Não resisti e antes do que imaginava estava me entregando àquela aventura de pele clara e cabelos longos e negros.
A noite longa e prazerosa ao contrário do que eu achei, teve fim. Mas o prazer que tive foi tão múltiplo e inimaginável que quando me vi de novo sozinha largada naquele sofá, porém não mais vazia como antes, desejei que tudo aquilo não fosse só por uma noite.

                                                                                                       Fernanda Braga

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O caminho das pedras



Mais uma vez, cá estou eu.
Esse lugar deveria ser familiar, já que volta e meia, cá estou eu.
Olho pra encruzilhada e continuo sem saber o caminho a seguir.
Começa a me parecer óbvio demais continuar seguindo as tais pedras amarelas.
Quem disse que esse é o melhor caminho mesmo?
No final da trilha encontrarei o famoso arco íris que todos dizem estar lá?
Do outro lado da encruzilhada a estrada não brilha de amarelo, mas as pedras azuis também são bem convidativas aos meus olhos.  
O que encontrarei seguindo por elas? Paz, tranqüilidade, liberdade?
O que o azul quer dizer?
Lá no fundo dela existem pessoas me chamando. Ouço vozes distantes me encorajando a seguir.
Embora meu coração bata mais forte, meus pés não conseguem sair dali.
Olho a minha frente e vejo a terceira estrada. Nem tão convidativa quanto às anteriores, mas que me passa algo simples.
Pedras cinzas. Será a simplicidade que tanto almejo?
A dúvida confunde meus objetivos, já não sei o que desejo.
O medo impede que eu arrisque. Sei que não tenho mais tempo a perder e muito menos a errar.
Olho pra trás e finalmente, não vejo nada!
No pé do ouvido escuto: Porque a dúvida? Porque o medo?
Eu meu pergunto: 
Como nada?
Onde estão as minhas lembranças? Minhas amizades e pessoas que conheci e amei? O que fizeram com as coisas que eu conquistei?
A mesma voz diz calmamente:
Estão todas dentro de você. Todas prontas pra amadurecer, crescer e te acompanhar assim que você tiver coragem de dar mais um passo e continuar a caminhar.

Fernanda Braga

Vida

 A vida nos ensina,
Que depois da noite, começa tudo de novo num outro dia.

A vida nos enobrece,
Com gestos singelos que muitos desconhecem.

A vida nos endurece,
Cria calos que do futuro nos protege.

A vida nos encoraja,
Ela nos dá ruas esburacadas para nelas aprendermos a andar.

A vida nos assusta,
Quando finalmente nos mostra que em segundos tudo pode mudar.

Fernanda Braga

Um pouco de mim


Quando você acorda, olha pro lado e me vê ali deitada, ainda sonolenta, me espreguiçando e tentando criar coragem pra levantar e tomar o café da manhã ao seu lado. Essa sou eu, querendo aproveitar os poucos momentos que temos.
Faço provocações enquanto você cozinha. Quem sabe assim consigo desviar sua atenção da minha falta de jeito pra cozinhar e te mostro o quanto posso de outra forma te compensar.
Meu sorriso vai e vem. Algumas vezes acompanhado de piadas maldosas, bobas que te fazem rir mesmo quando não as compreende.
Danço e canto da forma mais desajeitada que você já viu, ainda assim faço você sorrir e se encantar com meu pouco jeito.
Quando atendo ao telefone sem lhe dizer palavras doces, sou eu simplesmente reservando um pouco do meu coração.
Nos momentos que me calo tentando manter distância, não se sinta longe. O silêncio só me faz aproximar ainda mais de você evitando somente te fazer sofrer.
Às vezes peco por querer te proteger demasiadamente. Então, quando me ver soltando faíscas, só tente entender que talvez eu tenha chegado de mais uma luta por você.
Sei que te enlouqueço quando oscilo entre muito te amar e ainda querer muito me apaixonar.
Louca, confusa, insensata? Parece que nem eu sei a resposta exata.

Fernanda Braga

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Quer um presente?



A tarde era como outra qualquer. Eu sentada no mesmo banco de sempre, olhando pro nada, chupando meu sorvete e pedindo que acontecesse algo de diferente pra me salvar de tanto tédio.
O parque era pequeno e pouco interessante, então a chance de aparecerem pessoas novas era mínima, quase zero.
Exatamente por isso eu me contentava em chupar meu sorvete enquanto esperava o tempo simplesmente, passar.
Já estava quase terminando meu ritual diário quando algo fora do normal resolveu acontecer. Pisquei forte pra ter certeza que não era uma miragem.
Perfeita, atraente, sexy. Quem era aquela garota que resolveu mudar minha tão tediosa rotina diária?
Maior que a minha curiosidade foi o arrepio que eu senti quando ela sensualmente mexeu no cabelo. Sem palavras.
Ela estava ali, parada praticamente na minha frente, sabe-se lá por quanto tempo mais. E eu nada?
É. Meu corpo resolveu não responder aos meus comandos. Ainda assim o destino jogou a meu favor.
A miragem se aproximou de mim aparentemente em câmera lenta, pelo menos era a forma que eu enxergava. Tudo estava em câmera lenta.
Ela abaixou o óculos escuro e quando seu olhar cruzou com o meu, fiquei hipnotizada. Vi que seus lábios se mexiam, mas as palavras não saiam, ou eu não as escutava.
De repente ouvi estalos de dedos na minha frente. Ela tentava me acordar, e eu só enxerguei aquele belo sorriso.
Sedutora, essa era a palavra que definia a miragem.
Como um passe de mágica eu estava completamente seduzida por aquela garota. 
Como pode? Mal nos falamos!!
Isso não parecia importar. O que realmente importava era que o lance estava sendo recíproco.
A troca de olhares estava tão intensa que os esbarrões das mãos eram suficientes para arrepiar todos os pelos possíveis.
Entre um sorriso e outro, enquanto nos conhecíamos melhor ali naquele parque, algo acabou fazendo o que já era mais do que previsível naquela cena.
Foi tão rápido que quando dei conta ela já estava me beijando. Sua mão segurando a minha nuca e guiando aquele delicioso beijo e eu ainda sem acreditar.
Seria um sonho ou o calor daquele dia estava me deixando louca?
O beijo foi longo. Mas do mesmo jeito que ela surgiu ela também se foi.
Ainda sinto gosto de menta nos meus lábios e seu calor no meu corpo. Enquanto ela se distanciava eu fiquei ali, chocada com o que tinha acabado de acontecer. Sem forças pra gritar perguntando pelo menos o seu nome.
Naquele momento, só o que eu me perguntava era: Quem foi o anjo que me mandou esse presente?

                                                                                                                       Fernanda Braga