sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um dia de paz


Quero um dia de paz, que seja só um dia mais.  
Quero deitar numa rede, deixar o sol queimar meu corpo e a brisa suavemente tocar no meu rosto.  
Quero olhar para o mar e poder viajar. Ver os peixes, as ondas, as pessoas nadando e um barquinho velejando.
Meu pensamento vai longe, até onde você possa estar.
Olho para o céu e o azul me fascina, chego a te ver nas nuvens que se formam uma menina.
O cantar dos pássaros me lembra uma música que me faz lembrar você, nessa hora acabo me entristecendo justamente por não te ter. 
Em cada balançar da rede, é um momento que me vem em mente que não volta mais.
Caminho pela areia, sentindo meus pés afundando, a água me limpando e o vento sem rumo me guiando.  
Cada passo me vem uma lembrança, da minha infância, da adolescência e agora da sua ausência.
Tinha medo desse dia, de olhar pra tudo e não ver nada. De não ter você nessa minha caminhada.
Quero que a simplicidade me traga de volta o que eu tinha e não sabia. 
Fernanda Braga

Só uma noite


Já era tarde e o sono não vinha, minha cabeça estava a mil por hora. Estava me sentindo sozinha naquele lugar, tão meu e tão vazio.
Largada no sofá eu ouvia minha música predileta tocar no rádio enquanto tomava um vinho e fumava um cigarro pra tentar relaxar.
Infelizmente, nada disso estava adiantando, resolvi então procurar algo que me distraísse fora daquele lugar.
Tomei um banho demorado, me perfumei, escolhi a roupa mais provocante, e saí. Achei que dançar um pouco e beber alguma coisa me distrairia naquela noite aparentemente, sem fim.
Era só isso que eu precisava naquela noite. Um pouco de distração e nada mais.
Procurei um lugar desconhecido onde talvez eu me sentisse mais a vontade.
Ao entrar olhei ao meu redor, vi todas aquelas luzes radiantes, a música extravagante, o calor humano tomando conta daquele lugar. Fui fisgada pelo cheiro de paquera que estava no ar e principalmente porque ali, provavelmente não haveria ninguém conhecido que pudesse de alguma forma estragar com a minha noite.
Enquanto bebia uma ice estupidamente gelada, aproveitei pra dançar. Estava tão concentrada em mim mesma e no prazer que estava sentindo ali na pista, que não percebi quando alguém se aproximou, só pude sentir algo gostoso e com os olhos ainda fechados continuei dançando.
A música estava me relaxando e meu corpo naturalmente se soltando quando de repente senti um calor bem perto de mim, uma mão me tocando, tive receio de me virar e acabar com aquilo que estava tão confortante.  Era um toque macio acompanhado por um cheiro levemente doce que me guiava na dança, parecia que estávamos a sós na pista.
Envolvida com aquele momento, não reparei no detalhe da mão que me conduzia, senti que era delicada com unhas curtas, bem cortadas. Fiquei curiosa, mas em silencio desejei que não parasse.  
A surpresa foi grande quando finalmente me virei e deparei com uma linda mulher me olhando diretamente nos olhos e sorrindo pra mim. Fiquei parada por alguns segundos tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Senti um misto de prazer, nervoso e surpresa. Não tive força e nem vontade de parar com aquilo, na verdade eu queria mais.
Continuamos dançando tão coladas, era como se não tivesse mais ninguém ali, além de nós duas. Sentia sua mão respeitosamente contornando todo o meu corpo, conhecendo cada centímetro dele e em cada toque, mais eu me doava.
É. Estava difícil de admitir que eu estivesse envolvida por aquele perfume e hipnotizada por aquele olhar que me penetrava a poucos minutos de um jeito que já não conseguia explicar.
Perdi o controle e a noção do que fazia. Aquela mulher fascinante sem muitos esforços, com certeza, já me tinha.
Os toques se aprofundaram enquanto dançávamos e seus lábios a cada passo mais dos meus se aproximavam. Em alguns momentos sentia perfeitamente sua respiração quente passar pela minha nuca, enquanto suas mãos firmes seguravam suavemente meus cabelos.
Não resisti e antes do que imaginava estava me entregando àquela aventura de pele clara e cabelos longos e negros.
A noite longa e prazerosa ao contrário do que eu achei, teve fim. Mas o prazer que tive foi tão múltiplo e inimaginável que quando me vi de novo sozinha largada naquele sofá, porém não mais vazia como antes, desejei que tudo aquilo não fosse só por uma noite.

                                                                                                       Fernanda Braga

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O caminho das pedras



Mais uma vez, cá estou eu.
Esse lugar deveria ser familiar, já que volta e meia, cá estou eu.
Olho pra encruzilhada e continuo sem saber o caminho a seguir.
Começa a me parecer óbvio demais continuar seguindo as tais pedras amarelas.
Quem disse que esse é o melhor caminho mesmo?
No final da trilha encontrarei o famoso arco íris que todos dizem estar lá?
Do outro lado da encruzilhada a estrada não brilha de amarelo, mas as pedras azuis também são bem convidativas aos meus olhos.  
O que encontrarei seguindo por elas? Paz, tranqüilidade, liberdade?
O que o azul quer dizer?
Lá no fundo dela existem pessoas me chamando. Ouço vozes distantes me encorajando a seguir.
Embora meu coração bata mais forte, meus pés não conseguem sair dali.
Olho a minha frente e vejo a terceira estrada. Nem tão convidativa quanto às anteriores, mas que me passa algo simples.
Pedras cinzas. Será a simplicidade que tanto almejo?
A dúvida confunde meus objetivos, já não sei o que desejo.
O medo impede que eu arrisque. Sei que não tenho mais tempo a perder e muito menos a errar.
Olho pra trás e finalmente, não vejo nada!
No pé do ouvido escuto: Porque a dúvida? Porque o medo?
Eu meu pergunto: 
Como nada?
Onde estão as minhas lembranças? Minhas amizades e pessoas que conheci e amei? O que fizeram com as coisas que eu conquistei?
A mesma voz diz calmamente:
Estão todas dentro de você. Todas prontas pra amadurecer, crescer e te acompanhar assim que você tiver coragem de dar mais um passo e continuar a caminhar.

Fernanda Braga

Vida

 A vida nos ensina,
Que depois da noite, começa tudo de novo num outro dia.

A vida nos enobrece,
Com gestos singelos que muitos desconhecem.

A vida nos endurece,
Cria calos que do futuro nos protege.

A vida nos encoraja,
Ela nos dá ruas esburacadas para nelas aprendermos a andar.

A vida nos assusta,
Quando finalmente nos mostra que em segundos tudo pode mudar.

Fernanda Braga

Um pouco de mim


Quando você acorda, olha pro lado e me vê ali deitada, ainda sonolenta, me espreguiçando e tentando criar coragem pra levantar e tomar o café da manhã ao seu lado. Essa sou eu, querendo aproveitar os poucos momentos que temos.
Faço provocações enquanto você cozinha. Quem sabe assim consigo desviar sua atenção da minha falta de jeito pra cozinhar e te mostro o quanto posso de outra forma te compensar.
Meu sorriso vai e vem. Algumas vezes acompanhado de piadas maldosas, bobas que te fazem rir mesmo quando não as compreende.
Danço e canto da forma mais desajeitada que você já viu, ainda assim faço você sorrir e se encantar com meu pouco jeito.
Quando atendo ao telefone sem lhe dizer palavras doces, sou eu simplesmente reservando um pouco do meu coração.
Nos momentos que me calo tentando manter distância, não se sinta longe. O silêncio só me faz aproximar ainda mais de você evitando somente te fazer sofrer.
Às vezes peco por querer te proteger demasiadamente. Então, quando me ver soltando faíscas, só tente entender que talvez eu tenha chegado de mais uma luta por você.
Sei que te enlouqueço quando oscilo entre muito te amar e ainda querer muito me apaixonar.
Louca, confusa, insensata? Parece que nem eu sei a resposta exata.

Fernanda Braga

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Quer um presente?



A tarde era como outra qualquer. Eu sentada no mesmo banco de sempre, olhando pro nada, chupando meu sorvete e pedindo que acontecesse algo de diferente pra me salvar de tanto tédio.
O parque era pequeno e pouco interessante, então a chance de aparecerem pessoas novas era mínima, quase zero.
Exatamente por isso eu me contentava em chupar meu sorvete enquanto esperava o tempo simplesmente, passar.
Já estava quase terminando meu ritual diário quando algo fora do normal resolveu acontecer. Pisquei forte pra ter certeza que não era uma miragem.
Perfeita, atraente, sexy. Quem era aquela garota que resolveu mudar minha tão tediosa rotina diária?
Maior que a minha curiosidade foi o arrepio que eu senti quando ela sensualmente mexeu no cabelo. Sem palavras.
Ela estava ali, parada praticamente na minha frente, sabe-se lá por quanto tempo mais. E eu nada?
É. Meu corpo resolveu não responder aos meus comandos. Ainda assim o destino jogou a meu favor.
A miragem se aproximou de mim aparentemente em câmera lenta, pelo menos era a forma que eu enxergava. Tudo estava em câmera lenta.
Ela abaixou o óculos escuro e quando seu olhar cruzou com o meu, fiquei hipnotizada. Vi que seus lábios se mexiam, mas as palavras não saiam, ou eu não as escutava.
De repente ouvi estalos de dedos na minha frente. Ela tentava me acordar, e eu só enxerguei aquele belo sorriso.
Sedutora, essa era a palavra que definia a miragem.
Como um passe de mágica eu estava completamente seduzida por aquela garota. 
Como pode? Mal nos falamos!!
Isso não parecia importar. O que realmente importava era que o lance estava sendo recíproco.
A troca de olhares estava tão intensa que os esbarrões das mãos eram suficientes para arrepiar todos os pelos possíveis.
Entre um sorriso e outro, enquanto nos conhecíamos melhor ali naquele parque, algo acabou fazendo o que já era mais do que previsível naquela cena.
Foi tão rápido que quando dei conta ela já estava me beijando. Sua mão segurando a minha nuca e guiando aquele delicioso beijo e eu ainda sem acreditar.
Seria um sonho ou o calor daquele dia estava me deixando louca?
O beijo foi longo. Mas do mesmo jeito que ela surgiu ela também se foi.
Ainda sinto gosto de menta nos meus lábios e seu calor no meu corpo. Enquanto ela se distanciava eu fiquei ali, chocada com o que tinha acabado de acontecer. Sem forças pra gritar perguntando pelo menos o seu nome.
Naquele momento, só o que eu me perguntava era: Quem foi o anjo que me mandou esse presente?

                                                                                                                       Fernanda Braga

terça-feira, 5 de julho de 2011

Verdade mentirosa


Falamos realmente o que pensamos?
Estamos realmente preparados pra ouvir o que o outro tem a nos dizer?
A verdade salta dos meus lábios de uma forma que não consigo controlar.
Mas vejo a reação de quem ouve ser frustrante ao me ouvir falar.
Não quero chocar e nem aborrecer.
Quero simplesmente a verdade poder dizer, sem me importar se vou ou não agradar.
Falar exatamente o que o outro quer ouvir é para mim, mentir. Prefiro nesse caso, me calar!
Se não acho bonito, porque devo aprovar?
Se algo a mim foi perguntado acredito que a minha verdadeira opinião seja o esperado.
Pessoas hipócritas, mundo falso!
O que todos querem é que sejamos integralmente fingidos, políticos.
Não vou me render a esse jogo absurdo, vender minha alma e me calar pro mundo.
Não me importo em agradar e nem se de mim irão gostar.
O importante é saber que a minha verdade jamais será uma mentira.
        Fernanda Braga

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Mude sua vida


Viva sem rótulos e preconceitos
Sem fronteiras, barreiras e sem medos
Fale o que pensa, sem se preocupar com o que irão comentar
Coma o que quiser sem deixar a balança te dominar
Tenha amigos com qualidade sem deixar o número pesar
Cante no carro ou no chuveiro, sem ter vergonha de quem irá te escutar
Grite, esperneei, libere até gozar
Curta as amigas, compartilhe, fale besteira até cansar
Confesse, desabafe, ria, chore, lembre do que valha somente a pena lembrar
Durma tarde ou nem durma para aproveitar
Tome um porre até cair, só pra relaxar
Espere a hora certa de transar e quando chegar, basta só aproveitar
Não tenha pudores, frescuras e receios, curta sem medo cada momento
Fantasie, sonhe, sem despencar
Tenha objetivos, estude, tenha prazer em trabalhar
Ouça música, escreva, desenhe, tricote, pinte, procure sempre se ocupar
Tenha o espírito de uma criança e viva tendo esperança
Tenha a paixão de um adolescente e não viva descrente
Tenha a maturidade de um adulto e tenha a coragem de se jogar no mundo. 

Fernanda Braga

terça-feira, 24 de maio de 2011

Palavras


Palavras são e serão sempre palavras.
Elas saltam de nossas bocas com a mesma velocidade que entram em nossos ouvidos e tocam nosso coração.
Muitas vezes elas são mal interpretadas ou simplesmente mal utilizadas. Outras vezes são completamente assassinadas!
Elas possuem o poder de encantar, de ofender, de apaixonar e de machucar. Seja qual for a marca deixada ela não conseguirá se apagar.
Falamos sem pensar ou falamos para impressionar.
O ato de falar é tão fundamental que muitas vezes o usamos mesmo que ninguém possa nos escutar.
Palavras, palavras, palavras...
Tão sábias, sensatas, doces, mascaradas... Mas sem os gestos, elas definitivamente, não são nada.
Fernanda Braga

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Simples assim

Acordei um dia e me vi perdida.
Perdidamente apaixonada por outro alguém.
Alguém que até outrora não existia na minha vida complicada e corrida.
Meus olhos enxergaram e me cegaram na mesma velocidade e intensidade do dia.
Meu coração entrou em curto e em pouco tempo era um misto de querer, e de não poder ter.
Meus impulsos estão me dominando e aos poucos do outro amor vou me afastando.
Acordo e durmo querendo ouvir, ver, falar e tocar esse alguém tão distante de mim que insiste em me rondar e não me querer.
Algo forte me segura, me impedindo de continuar, embora meus impulsos continuem a me guiar.
O aperto que sinto no peito pela minha indecisão, vira rapidamente um arrepio quando estou perto dessa paixão.
Luto constantemente contra meus desejos, pois o que mais quero agora é tê-la em meus braços e enche-la de beijos.
Já não sei mais o que fazer, devo afastar de mim esse alguém que tanto quero ter?
Os dias passam rápido e mais confusa fico com tudo.
Sei que meu tempo esta acabando, e eu cada vez mais me apaixonando.
De esperança vou vivendo e esse amor me enlouquecendo. Não quero pensar que exista um fim e nem um começo, só quero que essa fantasia todos os dias tenha um recomeço.  

Fernanda Braga

sábado, 21 de maio de 2011

"Não adianta, embora o passado passe, ele sempre volta e se joga na sua cara."
                                                                                              
                                                                                                Fernanda Braga

sexta-feira, 20 de maio de 2011

"Na dúvida, faça, viva! Caso se arrependa, lembre-se, pelo menos você viveu a experiência e não esta se arrependendo pela dúvida de não ter feito".
Fernanda Braga

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Estranho Sentimento


Certo dia por acaso o meu caminho você cruzou.
Talvez vulnerável eu estivesse naquele dia em que permiti que com os meus sentimentos seu ingênuo sorriso mexesse.
Radiante como um raio de luz você apareceu, cravou em mim sua marca como uma farpa... Fácil de tirar, mas que marca enquanto lá está. Doer não dói, mas é como se você dali não quisesse sair, sem querer deixar de existir.
Quando por acaso você aparecia tudo ao redor diminuía, ainda mais quando sem querer seu sorriso resolvia aparecer.
Nossos gestos falaram algumas vezes por si só...  Olhares se cruzaram, sorrisos se beijaram, meu corpo não resistiu e algo forte nele refletiu.
Meu tempo de apreciação é sempre breve, mesmo assim muitas coisas acontecem e quando eu ainda te curto você desaparece.
Sei que um dia teremos muito mais que isso e é por isso que eu perco meu juízo.
Teremos a química carnal, o toque fatal, a experiência real e finalmente nosso grande final.
Ainda assim, todo dia aguardo por esse curto momento. Curto sim, porém muito intenso.
Talvez você nem imagine o quanto mexa comigo, mas o que importa é o quanto eu me permito.
Um dia isso tudo acabará, e eu espero que seja com você a me fartar.
Quero ter o prazer de saciar minha sede e fome, podendo ao mesmo tempo te ter e te pertencer.
É assim que em meus sonhos você aparece... Surge quente e depois se esvairece.
Tento entender de que forma você me enfeitiçou já que por dentro parece que me envenenou.
Agora uma parte de mim vive pensando e lembrando de você, de algo que nem sequer posso conhecer.
Outra parte vive numa vida paralela, longe dessa fantasia bela.
Sei que você vive só na minha mente, no meu imaginário... Sei também que não quero deixar de alimentar essa fantasia.
Saber de você me dá forças para viver... Viver nesse mundo político e imundo.
A fantasia que criei de você me faz esquecer que algumas vezes não tenho motivos para querer viver.

 Fernanda Braga

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Saudades

O tempo esta passando rápido demais, tão rápido que mal dá tempo de olharmos para trás.
Ainda assim me vejo encantada com seu cheiro na madrugada, me derreto ao te ver dormir e com olhos de paixão, admiro seu cabelo todo bagunçado logo que levanta do nosso colchão.
Na despedida te abraço como se fosse nosso primeiro dia... e quando sai pela porta, meu coração aperta de saudades imaginado sua volta.
Que loucura é essa? Que amor é esse que não finda e que tem tanta pressa?
Sozinha, olho ao redor e não vejo nada. Sua presença me faz falta.
Quando pela porta você retorna, olho no fundo da sua alma e percebo que sem você minha vida esta morta.
Fernanda Braga

Olhos que nem tudo vê

        A hora parecia não passar. Nesse longo tempo seu olhar acompanhava o balançar das folhas, apreciava os pássaros e o lindo luar daquela noite de verão. Sentia o cheiro das flores invadir seu corpo, que estava ali atônito na varanda.
        O silêncio daquele momento a fazia viajar em seus pensamentos, mas essa viagem não era longe dali, só atravessava a rua e penetrava sem permissão no quarto de Vivian.
        Vivian era sua nova vizinha, e desde que se mudou para o apartamento da frente, Camile não se via em paz. Não tirava de sua cabeça aquela mulher com um misto de beleza simples e deslumbrante.
        Seus dias eram percorridos de ansiedade. E sempre ao chegar em casa, Camile corria para a varanda para admirar à distância a sombra que contornava as curvas de Vivian; Que sem saber tinha todos seus movimentos observados, desde seus longos banhos aos seus momentos íntimos, inclusive enquanto vestia-se para dormir.
        Mas o que faltava para Camile era coragem em deixar de lado sua vida voyeur, seu medo de ser rejeitada e finalmente tomar uma iniciativa.
     Longos dias se passaram e ela ainda se sufocava em seus desejos, angustias e fantasias; decidiu então fazer algo que mudasse definitivamente aquela situação platônica. Sabia que deveria agir de uma forma sutil para não assustar de vez seu amor desconhecido, tornando-o definitivamente uma fantasia.
        O famoso pedido por uma xícara de açúcar lhe pareceu pouco autentico, porém era aparentemente uma boa desculpa para se aproximar de Vivian, e era o que ela mais precisava naquele momento.
        Respirou fundo, atravessou a rua e trêmula tocou a campainha. 
        Seus olhos brilharam ao ver de perto o que até então era visto através de sombras. Seu corpo não obedecia aos comandos que seu cérebro enviava, mas ela sabia o motivo; Simplesmente porque seu cérebro nada pensava diante da comprovação de tamanha beleza que até então era só na sua imaginação.
        Diante daquele momento tão sonhado conseguiu soltar um atordoado “oi”... Sem acreditar no que estava ali acontecendo foi automaticamente correspondida da mesma forma, mas o cumprimento foi acompanhado de um belo sorriso. Sorriso esse que lhe causou certo alivio provocando-lhe uma maravilhosa sensação de conforto e confiança.
        Algo ainda a deixava curiosa. Havia conferido de perto sua beleza, seu sorriso e sua simpatia radiante, mas ainda havia algo que não conhecia. Seu olhar ainda se escondia atrás de óculos que impediam detalhes a serem desvendados.
        Olhos que sabemos sempre dizer tudo o que somos o que queremos e até o que pensamos. Ela estava decidida a não sair dali até desvendar o que aqueles olhos tinham a lhe dizer.
     A conversa foi longa e ao se despedir, Vivian pediu algo que deixou Camile muito intrigada; pediu que a deixasse tocar em seu rosto e em seu cabelo; pedido esse que não foi recusado. Vivian tocou cada centímetro, de uma forma perspicaz e carinhosa, como se estivesse com as pontas de seus dedos descobrindo tudo sobre Camile.
        Ficaram diante uma da outra, e Vivian se mostrou admirada com o que havia sentido, disse então que Camile era realmente como imaginava no decorrer da conversa. Que era uma garota linda não só interiormente, mas em seus traços também.
        Camile chocada com a cena, só conseguiu agradecer tamanho elogio retornando a sua casa.
        Em casa ela ainda se sentia confusa ficando mais uma vez sozinha com seus pensamentos.
        Lembrou-se da primeira vez que se viu atraída e admirada por sua vizinha, procurou lembrar o que mais a havia chamado atenção, se eram as curvas ou a desconhecida que ali morava. Chegou ao momento que criou coragem em conhecê-la de verdade.
        O choque e a confusão em sua cabeça acharam à resposta de tudo, ela estava assustada por se ver completamente apaixonada por alguém que até então era desconhecida para ela, e que agora além de conhecê-la, também a amava. Amava tanto que poder descobrir não só a verdadeira beleza de Vivian, mas também que ela era uma mulher forte, determinada e apaixonada pela vida. Tudo isso tornou Vivian mais perfeita ainda, tão perfeita que o fato dela não enxergar não a fez diferente aos olhos de Camile, que enxergaram naquela mulher, o verdadeiro amor.
Fernanda Braga

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O espaço é o meu limite

Enquanto os meus olhos encaram o nada vejo você ao meu lado falando completamente desesperada. Não consigo decifrar o que tenta me dizer. Na minha frente só o que vejo são seus lábios a mexer. As palavras que você diz eu não entendo e o som eu não compreendo, tudo é confuso, o lugar é obscuro e de lá não quero sair, tenho medo do que esta por vir.

Sinto meu corpo pesar e a minha alma flutuar, sei que ali era aonde naquele momento eu não queria estar. Por dentro eu grito, esperneio, me debato nas paredes do meu eu, tento fugir porque tudo aquilo não quero ouvir, e em vão percebo que continuo ali.

Meu grito não sai, mas lágrimas em meus olhos surgem e lutam para em minha face não rolar. Sinto-me esgotada, cansada e completamente desmotivada. Quero simplesmente não falar.

Nessa hora a vontade é ampla de ir... Para aonde não sei, mas sei que quero de você fugir.

O tempo já não importa, mas quero minha vida sentir e minha liberdade deixar expelir.

Meu espaço a cada momento atenua e o ar aos poucos me falta, é como se tudo apertasse a minha volta... As paredes vão se aproximando e eu aos poucos vou deixando, sem lutar, sem me mexer, pois tenho medo de te perder.

Sentiria-me melhor se em uma camisa de força eu estivesse, pois assim talvez minha impotência, uma justificativa plausível tivesse.

Deixo tudo parecer normal, mas por dentro é que existe meu tormento mortal.

Sou como um pássaro, livre a voar... Sem limites de onde pousar ou de onde visitar... Quero poder livremente minha vida explorar... Mas sei também que para casa quero sempre voltar e ao seu lado estar.

Isso você não entende e em sua gaiola me prende... Assim minha vida você tira e meu amor por você aos poucos finda.

Já não tenho forças para lutar, e dessa forma deixo minha vida você moldar... Minhas asas já não se abrem meus olhos já não brilham mais e em meu peito só a dor jaz.

Fernanda Braga

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Dois lados



No espelho vejo o reflexo de um anjo com suas asas atadas, seus pés presos ao chão com um olhar triste e distante.

Olho bem fundo, meus olhos turvos se perdem na imagem que via outrora, vejo que ela se desfigura se tornando algo voraz e aparentemente indestrutível na aurora.

Seus olhos penetram nos meus, lendo meus pensamentos e mexendo com o meu eu... Temo o que quer me dizer, como se quisesse me devorar e por fim, tento me render.

As imagens me confundem e já não sei mais o que sou.

Num momento um anjo puro, sem maldades, implorando por segurança e proteção dentro das grades.

Em outro, algo que desconheço, almejando ver a luz e voar num pé de vento.

Temo querer um vôo que me leve à solidão. Um lugar lindo e livre que não tenha alguém que me dê a mão.

Fernanda Braga